domingo, 24 de abril de 2011
A assimetria da expectativa
Através do sistema de som, ouves uma voz enfadonha que te faz esboçar um sorriso e aumentar o ritmo cardíaco, estás a chegar ao teu destino. Ao fim de poucos minutos, a carruagem pára, dás um último jeito ao cabelo e o teu olhar ganha um brilho momentâneo, percorres aqueles corredores apertados e a ansiedade vai-se apoderando de todos os teus músculos.
Deslizas para a plataforma num passo tímido e respiras todo aquele alvoroço, um misto de emoções que te envolve numa melancolia desproporcionada. Percorres o horizonte com astúcia e os teus olhos obedecem a uma imagem que predomina todas as tuas lembranças. Ao teu redor, as pessoas começam a dispersar e um sentimento confrangedor enobrece a desilusão daquele instante.
Tudo acontece por uma razão, pensas. Apetece-te gritar, mas só te questionas “Quanto tempo demorará a chegar?”
Filipe Almeida
One Night Only - Hide
Álbum: Started a fire (2008)
Música: Hide
Recomendação: 3/5
sexta-feira, 22 de abril de 2011
quinta-feira, 21 de abril de 2011
Crescer a cores - Eduardo Sá
Até que, um dia, sonhou que morria. E, sentindo-se traído pelo sonho, recusou acordar, evitando ir além do sonho (que talvez seja o maior desafio que um homem pode ter). Para não ter de o enfrentar, refugiou-se no sono… e morreu a dormir.
Será talvez esse o maior risco que se corre aos 15 anos: adormecer quando se cresce, imaginando que o melhor da vida são os sonhos quando, na verdade, o que lhes dá cor ao crescimento é ir – sempre – além deles.”
Eduardo Sá "Tudo o que amor não é"
Foto: Manuel Madeira
Em nome da memória - Ann Brashares
“Vivi mais de mil anos. Morri inúmeras vezes. Quantas ao certo, não sei. A minha minha memória é uma coisa extraordinária, mas não é perfeita. Sou humano.
As primeiras vidas confundem-se um pouco. O arco da nossa alma segue o padrão de cada uma das nossas vidas. É macrocósmico. Houve a minha infância. Houve muitas infâncias. E mesmo na parte inicial da minha alma atingi a idade adulta muitas vezes. Hoje, em cada uma das minhas infância, a memória advém mais depressa. Nós executamos os movimentos, as acções. Olhamos de uma forma pouco vulgar para o mundo que nos rodeia. Recordamo-nos.”
Ann Brashares, “ Em Nome da Memória”
Foto: Nuno Bernardo
quarta-feira, 20 de abril de 2011
O caminho mais fácil
terça-feira, 12 de abril de 2011
Mudanças
No horizonte fica a esperança e nas caixas de cartão deixamos as recordações. Caminhamos como nómadas sempre com um destino temporário, sempre resignados com a sagacidade da distância. A minha morada é um “vale nada”, que tanto gosto de viver. As pessoas, os regionalismos, as culturas e todos os momentos que vivemos só porque a distância está no limiar de um cruzamento, que acabas de perder de vista. Cada lugar é, aparentemente, um espaço patético onde a superfície é delineada por fibras sintéticas que fazem cócegas nos dedos dos pés, aparentemente, a realidade destas cócegas denotam uma indemnidade que atenua qualquer virtualismo que o desconhecido possa provocar. Porquê correr, se posso caminhar? Não perco tempo a tentar definir o passo seguinte...Afinal não sou assim tão demente, afinal o “vale nada”, vale uma esperança auspiciosa que enobrece a possibilidade de acontecer.
Filipe Almeida
Foto: Internet
segunda-feira, 11 de abril de 2011
Jeff Buckley - Everybody here wants you
Álbum: So Real: Songs from Jeff Buckley (2007)
Música: Everybody here wants you
Recomendação: 5/5
sexta-feira, 1 de abril de 2011
Os livros que não se deixam folhear - Eduardo Sá
"Ninguém cresce vazio, por mais que, num olhar de fugida, se sinta assim. Quem nos preenche são as pessoas. Mesmo que, da sua presença no nosso crescimento, fique como rasto um aparente e interminável vazio.
O vazio é indissociável da «conta-corrente» das nossas relações mais significativas. Anuncia um estado deficitário que, se acumula, nos empurra para um enorme «tanto faz». Na verdade, o vazio é a bruma com que protegemos, dos nossos ressentimentos, as pessoas que transformam o mundo interior numa biblioteca que se foi preenchendo com livros que nunca se deixaram folhear.
O vazio é uma depressão sem se estar triste. Uma dor que adormece devagar.
Será altura de folhear os livros ou mesmo de «começar de novo», com pessoas que o preencham mais e lhe devolvam a vida interior que, muitas das que fazem parte de si lhe terão tirado."
Eduardo Sá "Tudo o que amor não é"