sábado, 29 de janeiro de 2011

The Beautiful Girls - On clear day

Artista da Semana: The Beautiful Girls

Álbum: Morning Sun (2002)

Música: On clear day

Recomendação: 4,5/5

Se há coisa que me está a fazer muita falta és tu. Saudades*

Infidelidades - Parte 2/5


Como prometido, aqui vai a 2ªparte. Para quem não leu, a 1ªparte foi publicada em Dezembro de 2010 e encontra-se aqui.

“(…) O que não significa que, no fundo, eu não sentisse o secreto desejo de me vingar de ti. No fundo, no fundo, ainda me sentia magoada pelo facto de teres passado uma vez a noite em casa daquela rapariga. Bem sei que me disseste que não aconteceu nada e eu acreditei em ti, mas isso não significava que a coisa ficasse resolvida. No fim de contas, são os sentimentos que estão em causa. Isto para dizer que não foi por vingança que te fui infiel. Lembro-me de te ter ameaçado, uma vez, mas isso foi da boca para fora. Se fui para a cama com ele, foi porque me apeteceu, mais nada. Uma vontade mais forte do que eu, à qual me foi impossível resistir.

Há já muito tempo que não nos víamos quando quis o destino que nos encontrássemos por causa de um assunto de trabalho. A seguir, fomos comer qualquer coisa e depois entrámos num bar para tomar um copo. Já sabes que não bebo, por isso fiquei-me por um sumo de laranja e não ingeri uma gota de álcool. Portanto, não foi por causa do álcool que aconteceu o que aconteceu. Tratou-se de um encontro normalíssimo, uma conversa o mais natural possível, mas a certa altura tocámos um no outro casualmente, e naquele preciso momento senti um desejo intenso de fazer amor com ele. No instante em que os nossos corpos se tocaram, percebi instintivamente que também ele me desejava. E que sabia que eu o desejava. Foi uma coisa perfeitamente irracional, uma espécie de descarga eléctrica paralisante que passou entre nós. Tive a sensação de que o céu desabafa sobre mim. Senti as faces a arder, o coração a bater desalmadamente, uma forte pressão no baixo-ventre. Mal me conseguia manter sentada no tamborete. A princípio não sabia bem o que me estava acontecer, mas não demorei muito a perceber que estava na presença do desejo sexual. Sentia por aquele homem um desejo físico tão violento que me senti à beira de sufocar. Sem que nenhum de nós tomasse a iniciativa, entrámos num hotel ali perto e fizemos amor como dois loucos.

Bem sei que me arrisco a ferir os teus sentimentos ao descrever-te a situação de uma forma tão crua, mas acredito que, a longo prazo, será melhor que saibas como tudo se passou, ao pormenor e com sinceridade. Por isso, ainda que seja doloroso para ti, peço-te que tenhas paciência e continues a ler.

Não posso dizer que estivesse apaixonada. Com efeito, o que fiz não tinha nada que ver com o «amor». Só sei que queria ter relações sexuais com ele, senti-lo dentro de mim. Pela primeira vez na minha vida desejava um homem ao ponto de me faltar a respiração. Tinha lido acerca de um «desejo irreprimível» nos livros, mas até àquele dia nunca soubera do que se tratava concretamente. (…)”

Haruki Murakami, “Crónica do Pássaro de Corda”

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Curtas XII - Nunca é tarde

"A cada instante há que sacrificar o que somos ao que podemos vir a ser."

Charles Bos


quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Rui Veloso - Nativa

Artista da Semana: Rui Veloso

Álbum: Auto da Pimenta (1991)

Música: Nativa

Recomendação: 5/5

Sou um grande admirador do Rui Veloso, para mim é umas das principais referências nacionais. É impossível ficar indiferente às músicas e às letras deste grande músico, por isso, Obrigado Rui!


Agustina Bessa Luís - O que é escrever?

E porque também gosto de escrever, não como imposição ou dever, mas sim como uma partilha espontânea de sentimentos, deixo-vos este texto da Agustina Bessa-Luís.

"Escrever é isto: comover para desconvocar a angústia e aligeirar o medo, que é sempre experimentado nos povos como uma infusão de laboratório, cada vez mais sofisticada. Eu penso que o escritor com maior sucesso (não de livraria, mas de indignação social profunda) é aquele que protege os homens do medo: por audácia, delírio, fantasia, piedade ou desfiguração. Mas porque a poética precisão de dum acto humano não corresponde totalmente à sua evidência. Ama-se a palavra, usa-se a escrita, despertam-se as coisas do silêncio em que foram criadas. Depois de tudo, escrever é um pouco corrigir a fortuna, que é cega, com um júbilo da Natureza, que é precavida."

Agustina Bessa-Luís, "Contemplação Carinhosa da Angústia"