sexta-feira, 11 de março de 2011

Perspectivas

A perspectiva do mundo depende do sítio de onde o observas, deveríamos portanto procurar a inocência de cada local explorando a ambição daquele estado puro ao máximo, porém continuamos agarrados a uma monotonia resignada.

Encontro-me aqui no deleite do teu regaço, onde te fazes sentir de uma forma indefinida. Aqui sentado na minha prancha só dou conta desta realidade pelo som do chapinhar das ondas que transformam esta imensidão num tónico indispensável. És uma analogia perfeita da Vida. Tantas vezes me puxas para trás, tantas vezes me fazes cair, tantas vezes me fazes andar às voltas sem ter um destino certo e mesmo assim, sempre que me levanto fazes-me sorrir, sempre que deixas sentir a tua serenidade fazes-me acreditar, sempre que a rebentação dá origem a um arco-íris mostras-me a beleza, sempre que sacrificas o teu sal na minha pele bronzeada mostras-me o significado da partilha. Sem regras que me dêem certezas, sigo apenas os teus sinais.

Não tenho vergonha de começar, não tenho receio da aventura nem da languidez da saudade, é por isso…que não faço planos para o próximo adeus.

Filipe Almeida

Foto: Internet

The Smashing Pumpkins - Disarm

Artista da Semana: The Smashing Pumpkins

Álbum: Siamese Dream (1993)

Música: Disarm

Recomendação: 5/5

"I used to be a little boy
so old in my shoes
and what i choose is my choice
what's a boy supposed to do?
the killer in me is the killer in you
my love
I send this smile over to you"


Infidelidades - Parte 5/5


Continuação da parte 4

“(…) Há três anos, logo a seguir ao meu aborto, anunciei que tinha uma coisa importante para te dizer. Lembras-te? Talvez devesse ter sido mais sincera contigo. Se o tivesse feito, quem sabe se tudo isto nunca tivesse acontecido, mas o certo é que nem agora, na situação em que me encontro, tenho forças para o tal. Isto porque tenho a impressão de que, uma vez pronunciadas certas palavras, as coisas entre nós ficarão irremediavelmente estragadas, sem conserto possível. Por isso, tomei a decisão de guardar tudo para mim e desaparecer do mapa.

Custa-me muito dizer isto, mas contigo nunca soube o que era o verdadeiro prazer sexual, nem antes nem depois do casamento. Fazer amor contigo era maravilhoso, mas tudo o que sentia, naqueles momentos, eram sensações vagas, tão vagas que dir-se-iam pertencer a outra pessoa. A responsabilidade de não ser capaz de sentir nada era cem por cento minha. Dentro de mim havia como que uma espécie de obstáculo que me impedia de aceder ao prazer sexual. Quando, por razões que não sou capaz de explicar, fui para a cama com aquele homem, o bloqueio desapareceu de repente, deixando-me completamente desatinada.

Entre nós os dois houve sempre, desde o princípio, algo de muito íntimo e delicado. Agora, porém, também essa alquimia se desvaneceu. Aquele mecanismo perfeito, quase mítico, ficou destruído. E quem o destruiu fui eu. Falando mais precisamente, houve algo que me fez destruí-lo. Que isso tenha acontecido, ninguém lamenta mais do que eu. Nem toda a gente tem a sorte de dispor de uma oportunidade como a que eu tive contigo. Odeio com todas as minhas forças a existência dessa coisa que me provocou tudo isto. Nem fazes ideia o ódio que lhe tenho. Quero saber ao certo do que se trata. Tenho de saber concretamente o que é. Devo encontrar as suas raízes, erradicá-la, julgá-la, castigá-la. Terei forças para o fazer? Não estou bem certa disso. De qualquer modo, é uma coisa que só a mim diz respeito, nada tem a ver contigo.

Só te peço que daqui em diante não te preocupes mais comigo. Esquece-me e procura refazer a tua vida. Quanto à minha família, vou escrever-lhes a dizer que a culpa do que aconteceu foi minha, e só minha, e que tu não és tido nem achado no que diz respeito a esta questão. Não creio que te venham causar problemas. Penso que devemos dar de imediato início aos trâmites do divórcio. Creio que será a melhor solução para os dois. Peço-te por tudo que não te oponhas e dês o teu consentimento. No que toca à minha roupa e ao resto das minhas coisas, deita tudo para fora, dá a quem precisa ou faz o que achares melhor. Fazem parte do passado. Perdi direito a todas as coisas que usei durante a nossa vida em comum, sinto isso.

Adeus.”

Haruki Murakami, “Crónica do Pássaro de Corda”

Foto: Isabel Madureira

Curtas XIV - Competição


E quando há mais que uma pessoa a amar outra...


"O amor é como uma competição, no final há sempre alguém que perde e outro que ganha."


quarta-feira, 2 de março de 2011

Pete Murray - See the sun

Artista da Semana: Pete Murray

Álbum: See the sun (2005)

Música: See the sun

Recomendação: 5/5