sábado, 25 de junho de 2011

A Languidez do Desejo


Ainda guardo na memória, a última vez que deixámos a cama com os lençóis de lavado. Aquele perfume fresco com cheiro a citrinos parece persistir em todos os poros da minha pele e a suavidade da roupa esticada continua a ser testemunha daquele roubo de sentidos. É na simplicidade desses momentos ingénuos, que se encontra a grandeza desta reminiscência e assim, se criam laços que nunca desvanecem.

A camisa de noite, definia com sumptuosidade as formas do teu corpo e, de certa forma, era o suficiente para provocar a minha perplexidade. Em bicos de pés, os teus gémeos ganhavam uma forma bem torneada e sabendo disso, caminhavas para mim lentamente… O teu sorriso ficava mais pequeno, mais atrevido, mais sensual, era assim que ganhavas toda a minha atenção.
Recordo, como desperdiçámos as palavras num silêncio proibido e irreversível…

- Hoje quero-te só para mim, vou ligar para o trabalho e dizer que estou doente – retorquiu ela, trincando suavemente o lábio.

- Se tu estás doente, eu fui momentaneamente promovido a enfermeiro? – perguntei, com um olhar semicerrado.

- Enfermeiro a tempo inteiro – Respondeu. - Na unidade de cuidados intensivos.

- Hum, não tens receio da minha falta de experiência?

- Pelo contrário. A tua falta de experiência fará com que sejas mais dedicado – contrapôs ela, com a boca praticamente encostada à minha orelha.

- Sendo assim, vou ter de te examinar minuciosamente para determinar a causa da tua doença. – sussurei, beijando docemente o seu pescoço.

As palavras foram-se perdendo e o meu corpo, já sentia o calor daquela pele morena.

- Vais tratar de mim para sempre? – perguntou ela, suspirando.

- Para sempre. – Respondi – Como se fosse a tua imunidade.

Filipe Almeida
Foto: Internet

2 comentários:

  1. Este texto tá mm mto bom...são nestas simplicidades que se resumem as complexidades da vida=)

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  2. ou as simplicidadades complicadas! ;)
    Ana Sarmento

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